Fátima 13 de Maio 2021 – Pandemia exige mudança universal
104 anos depois da primeira aparição da Virgem Maria (aos três pastorinhos: Lúcia, Francisco e Jacinta) em Fátima Portugal, o seu santuário voltou a acolher peregrinos para celebrar esse acontecimento.
Em 2020 a presença de fiéis foi simplesmente simbólica, mas este ano e apesar das restrições, o recinto contou com aproximadamente 7.500 peregrinos ( em condições normais seriam à volta de 300.000).
Como em alturas anteriores as celebrações tem como pontos altos a vigília e procissão de velas no dia 12 de Maio e a celebração eucaristica no dia 13.
As celebrações foram presididas por Dom José Tolentino de Mendonça, cardeal, teólogo e professor universitário.
Actualmente é o arquivista do Arquivo Apostólico do Vaticano e bibliotec҈rio da Biblioteca Apostólica Vaticana.
Durante as cerimónias, marcadas por momentos de grande recolhimento e espiritualidade, Dom José Tolentino de Mendonça na sua homilia dirigiu-se a todos os peregrinos e deixou uma mensagem ao mundo.
Tomando como referencia o evangelho de S.João 19, 25-27,eis algumas das frases do prelado madeirense:
“Aproximemo-nos da cruz para escutar o que nos está a dizer o crucificado”
“Uma aliança indestrutível de amor”.
“Jesus transforma a experiência da crise mais extrema numa ocasião para relançar a vida, para restaurar a sua frágil arquitectura, para propor um novo começo”.
“Na hora suprema da crise ele continua a empurrar a história para a frente… a buscar e a reintegrar o que estava declarado como perdido. Olhando para a cruz, poderíamos pensar que Jesus estava brutalmente confinado e estava, mas o verdadeiro desconfinamento é aquele que o amor opera em nós”.
“Jesus ensina a transformar as crises em laboratórios de esperança”.
“As nossas sociedades precisam dum relançamento espiritual, sem o pão não vivemos mas, não vivemos só de pão”.
“Os maiores momentos de crise foram superados infundindo uma alma nova, propondo caminhos de transformação interior e de reconstrução espiritual”.
“É essa a mensagem de Fátima naquele longínquo 1917 com o mundo mergulhado na primeira guerra química da história… o que é que a Virgem pediu à humanidade através dos pastorinhos? Oração, Penitência e Conversão”.
“Um grande filósofo europeu Max Scheler… propunha ferramentas muito semelhantes àquelas de Fátima… a reconstrução da Europa só seria possível se as diversas nações assumissem, face à fragilidade comum, a necessidade também duma penitência comum, dum arrependimento comum, dum sacrifício comum”.
“A filósofa Simone Weil… afirmou “…as necessidades humanas são físicas, necessidade de pão, de protecção social, de habitação, de cuidados de saúde mas são também morais e espirituais… constitui um atropelo à vida humana privá-la desse alimento necessário à vida da alma”.
“Há 39 anos atrás o Papa S.João Paulo II apelou para que se reconhecesse em Fátima a preparação dum tempo espiritual novo”.
“Esta mensagem é dirigida a todos os homens e o objecto do seu desvelo são todos os homens da nossa época e ao mesmo tempo as sociedades, as nações e os povos”.
“Pois não basta voltarmos ao que éramos antes, é preciso que nos tornemos melhores”.
“ É preciso um suplemento de alma, é preciso que desconfinemos o nosso coração”.
“Este é chamado a ser também um momento de revisão crítica do caminho que realizamos até aqui, de fazer uma espécie de balanço interior que avalie os nossos estilos de vida, os modelos de desenvolvimento e a natureza das opções que nos tem conduzido”.
“Como dizia o Papa Francisco, a tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projectos, os nossos hábitos e prioridades”.
“Mas estamos a tempo de transformar a crise em oportunidade e esta hora de calamidade em esperança…o Papa Francisco disse “aquela abençoada pertença comum a que não nos podemos subtrair, à pertença uns aos outros como irmãos”
“O mandato de Jesus ressitua-nos, redefine o nosso papel e o nosso lugar no mundo, abre-nos para horizontes imprevistos”.
“Não tenhamos dúvidas, a reconstrução pós-pandêmica depende do modo como encararmos a fraternidade, é isso que afirma o Papa Francisco na Encíclica Fratelli Tutti que se propõe como bússola a Igreja e ao mundo, para relançarmos a nossa viagem comum e , exorta o Santo Padre ; sonhemos com uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a sua própria voz, mas todos irmãos”.
“O mundo fatigado por esta travessia pandêmica, que ainda dura e que pede a cada um de nós; vigilância e responsabilidade, não tem apenas fome e sede de normalidade, precisa de novas visões, de outras gramáticas, precisa que arrisquemos ter sonhos”.
E dirigindo-se aos jovens disse ..
”em vez de ter medo, tenham sonhos, descubram que Deus é aliado dos vossos sonhos mais belos, ousem sonhar um mundo melhor, sintam que o futuro depende da qualidade e da consistência dos vossos sonhos”.
E como ideia final da homilia afirmou:
“Fátima ensina como se ilumina o mundo que está às escuras, seja o pequeno mundo do nosso coração seja o coração do vasto mundo”.
Com a emocionante procissão do adeus a Virgem, se encerraram estas cerimónias do 13 de Maio em Fátima.
Carlos Lima